WCCM

"Carta Nove "- Leitura de 22/07/2012
Laurence Freeman OSB, COMMON GROUND: Letters to a World Community of Meditators (New York: Continuum, 1999), pgs. 103-104.

A meditação não permite que nos enganemos.  Nos vemos, como somos.  Nos é impossível deixar de enxergar as maneiras pelas quais somos falsos ou hipócritas; nossas ilusões, auto-enganos, inseguranças medrosas e, compulsões se mostram claramente; e, a maneira como julgamos e rejeitamos outras pessoas, de maneira tão arrogante, atingirá como uma adaga nossa consciência, quando a enxergarmos.  Porém, ao encararmos esse lado sombrio de nós mesmos, o iluminamos.  O vemos, com uma luz que brilha, a partir de algum local mais profundo em nós mesmos.  E, essa luz de nosso espírito calcina essa nossa auto-aversão, com a revolucionária e finalmente inevitável verdade, de que somos bons e dignos de amor.


Quanto mais conscientes estivermos do verdadeiro ser, mais veremos nossa atitude se modificar em relação aos outros, na maneira como mantemos nossas relações com eles.  O medo diminui, o amor generoso aumenta; as reações iradas cedem lugar à sabedoria do perdão; o julgamento é absorvido pela paciência.  Em lugar do controle e da manipulação, que aos olhos do ego é o que faz o mundo girar, vislumbra-se uma surpreendente liberdade, como real possibilidade nos negócios humanos: a liberdade que surge quando as pessoas permitem, umas às outras, que elas sejam quem realmente são.  O mundo não seria perfeito, mesmo se fizéssemos isso desde a infância, mas, certamente necessitaríamos menos prisões e, aqueles que nelas estivessem, poderiam ser aqueles que efetivamente se beneficiariam por ali estar.


Mas, que grande risco.  O grande risco que assumimos na meditação é, antes de mais nada, o de sermos nós mesmos.  Este é o primeiro passo.  Se não déssemos o correspondente próximo passo, jamais nos moveríamos de onde estamos; estaríamos saltando em uma só perna toda a nossa vida.  O próximo passo é o de assumirmos o risco de deixar que os outros sejam eles mesmos.  A maneira de fazermos isso, é percebermos que a realidade deles é distinta da nossa.  E, percebê-los como reais é amá-los.  Iris Murdoch escreveu certa vez, que  “o amor é a percepção do indivíduo”.  Ela seguiu dizendo,


O amor é essa compreensão extremamente difícil de que algo além de nós mesmos é real.  O amor e, assim também, a arte e a moralidade, é a descoberta da realidade.  O que nos choca, nessa compreensão de nosso destino supersensitivo, é uma indizível particularidade.
A grande ação da contemplação é a de voltarmos a atenção para fora de nós mesmos, na direção da realidade maior que, “fora de nós”, nos contém.  É a mesma ação da contemplação, qualquer que seja a maneira pela qual consigamos fazê-la: nos relacionamentos, na arte, no serviço e, na prece.  Certamente, uma maneira fundamental de fazê-lo, é a de aprendermos a meditar, uma arte de aprendizado vitalícia.  Meditar é aprender a viver contemplativamente em tudo o que fazemos [para], tal como Santo Antão do deserto certa vez exortou seus discípulos: “sempre respirar Cristo”.



Medite por Trinta Minutos
Lembre-se: Sente-se. Sente-se imóvel e, com a coluna ereta. Feche levemente os olhos. Sente-se relaxada(o), mas, atenta(o). Em silêncio, interiormente, comece a repetir uma única palavra. Recomendamos a palavra-oração "Maranatha". Recite-a em quatro silabas de igual duração. Ouça-a à medida que a pronuncia, suavemente mas continuamente. Não pense, nem imagine nada, nem de ordem espiritual, nem de qualquer outra ordem. Pensamentos e imagens provavelmente afluirão, mas, deixe-os passar. Simplesmente, continue a voltar sua atenção, com humildade e simplicidade, à fiel repetição de sua palavra, do início ao fim de sua meditação.


 
 
Comunidade Mundial de Meditação Cristã