Carta 8 - Metanoia

ESCOLA DE MEDITACAO WCCM

Ano 2 - Carta 8

Metanoia

 

Cara(o) Amiga(o)

‘Metanoia’ é um estado relacionado ao ‘dom das lágrimas’ e, ao ‘arrependimento’, e se origina nestas virtudes. As duas palavras gregas que a originaram são ‘meta’ e ‘nous’. O prefixo ‘meta’ significa ir além e, também envolve mudança, e ‘nous’ é o ‘intelecto’, não a inteligência racional, mas a inteligência intuitiva. É nossa maneira de intuitivamente sabermos a verdade de algo. Mestre Eckhart, o místico alemão do século XIV, descreve esse conhecimento intuitivo como a visão dos ‘olhos do coração’, tal como muitos outros Padres da Igreja. Ele fala do “conhecimento puramente espiritual; ali onde a alma é arrebatada de todas as coisas do corpo. Ali, nós escutamos sem que haja som, e enxergamos sem que haja substância...”

Trata-se de um modo de compreensão que está além do que nos é usual; trata-se de uma transformação da consciência, ir além, para uma Realidade mais profunda, ou até um encontro com a Realidade Suprema; é a maneira “pela qual Deus pode ser visto” (Mestre Eckhart). Os primeiros Cristãos, particularmente Clemente e Orígenes no século II, igualaram o conceito platônico de ‘nous’ com a ‘imagem de Deus’ do Gênesis. De fato, eles a viram como nosso ponto de contato com Deus; era considerada a porção mais elevada da alma, a essência de nossa humanidade, de fato nosso órgão da oração. Todos os primeiros Padres da Igreja concordavam que esta ‘imagem’ está contida em todas as pessoas, sem exceção. Isso se soma à teoria grega de que somente o ‘igual compreende o igual’, o que foi amplamente endossado por pensadores Cristãos, incluindo Tomás de Aquino e Mestre Eckhart, e mostra que podemos, portanto, vir a conhecer Deus intuitivamente, uma vez que nós já somos ‘semelhantes a Ele’ em nossa essência; nós temos algo de essencial em comum com o Divino, que Mestre Eckhart chama ‘a centelha’, ‘o castelo’, ou às vezes o ‘chão’ de nosso ser. Alcançar através, e além, do ‘nous’ permite-nos, portanto, compreender quem verdadeiramente somos: filhos de Deus. “Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12)

Porém, para adquirir consciência dessa ‘semelhança’ essencial necessitamos purificar-nos das nossas emoções desordenadas e auto-centradas, e somente então, poderemos ver a verdadeira realidade. O significado dessa realidade é claramente demonstrado por Maria Madalena (Jo 20, 10-19). Depois da crucificação de Jesus ela vai à tumba e a encontra vazia. Ela se sente perturbada, envolta na própria dor e angústia. Mesmo quando Jesus aparece, ela está tão dominada por seu pesar, que não consegue ver com clareza. Ela não o reconhece e o toma por um jardineiro. No momento em que Jesus a chama pelo nome, dissipa-se a visão embaçada que ela tinha da realidade, focada em suas próprias emoções e necessidades, e ela o vê, em sua verdadeira realidade.

A palavra ‘metanoia’ foi utilizada também pelos Padres e Madres do Deserto para significar reverência, fazer prostrações, deixando claro que a atitude necessária para se alcançar a dádiva da graça da ‘metanóia’, era de humildade e arrependimento, e abertura do coração. ‘Metanoia’, a descoberta de quem você verdadeiramente é, e de quem Deus/Cristo é, trata-se de uma fonte de alegria infinita.

por Kim Nataraja

 

Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

 

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