Leituras

Acesse mais leituras e mensagens de D. John Main e D. Laurence Freeman:

encotre grupo meditacao

Apoie a Comunidade, saiba como contribuir

Sábado da Primeira Semana da Quaresma

D. Laurence Freeman

Mateus 5,43-48

Pois Ele faz nascer o sol para bons e maus e chover sobre justos e injustos.

A ideia de que Deus não quer e não pode punir talvez seja muito ofensiva para algumas pessoas. Desafia uma ideia de justiça amplamente aceita, segundo a qual, os malfeitores devem pagar por seus crimes e os bons, ser recompensados. Ela desnorteia a visão de que o universo é um sistema moral coerente onde o bem e o mal estão em permanente conflito.

Os conflitos entre pessoas religiosas acontecem ao longo desta linha divisória. Um mundo divino de recompensa e castigo reforça a segurança daqueles cuja religião tem um papel importante em sua apólice do seguro de vida e na necessidade de segurança. Tudo é claro e simples nesta dimensão, mas depende da montagem de uma estrutura de definições, regras e rituais que mantenham esta visão de mundo. Nesta dimensão, excluir marginalizados, seguidores de outras religiões e minorias sexuais aumenta ainda mais a sensação de segurança. Num grau extremo, bloqueia firmemente qualquer sinal do Espírito de Deus livre e vivo – como aquela fé cristã que abençoou o Apartheid, as bombas de Napalm e fechou os olhos para o Holocausto. Se você balançar esta estrutura, parece que a construção inteira vai desmoronar. Se eles o surpreenderem balançando-a, cuidado. A visão de Deus que Jesus personifica, e a Quaresma nos ajuda a encontrar, é mais desafiadora, porém, menos explicitamente segura.

Espero que, a estas alturas, você já tenha falhado tanto em manter a prática da Quaresma que consiga enxergar para além deste estado mental bidimensional no qual todos estamos, pelo menos em parte, engajados. Pensamos que Deus é como nós, ao passo que, segundo o Evangelho, o destino humano é tornar-se como Deus. Há uma diferença importante de perspectiva aqui. Para abraçarmos a realidade mais desafiadora de um universo multidimensional, precisamos perfurar em diversos pontos nossa probidade e a certeza de que estamos do lado certo. Cada perfuração, cada derrota na vida é potencialmente uma janela para esta visão mais expansiva e inclusiva da realidade, uma rota de fuga das condições severas da prisão do fundamentalismo e dualismo.

Mas a Bíblia não mostra um Deus que pune os pecadores (talvez até com excesso, às vezes)? E Jesus não fala, em algumas ocasiões, sobre os maus serem atirados num lugar de choro e ranger de dentes? Como resolver esse questão tão difícil? Se olharmos de forma impessoal, o universo é um sistema em que a lei do carma prevalece: boas ações produzem bons resultados, e paga-se pelas más ações. Mas desperte um pouco mais, veja a si mesmo num universo permeado pela dimensão espiritual, pela mente de Deus. Você enxerga então uma lei maior do que o carma.

Esta é a dimensão final do amor, para a qual podemos – por todas as nossas quedas, talvez devido a nossas quedas – despertar. Carma e amor coexistem, mas o carma se dissolve no contato consciente com o amor. O pai do filho pródigo castiga? Ele poderia? Expandimo-nos nesta dimensão maior através do amor aos nossos inimigos, da oração por aqueles que nos perseguem e ao ofertar a outra face. Todas as coisas idealizadas, impossíveis, que somos incapazes de fazer, a menos que nos tornemos “como Deus”.

 


 

Texto original em inglês

Saturday of Lent Week One: Matthew 5:43-48

He causes his sun to shine on good and bad alike and his rain to fall on the honest and dishonest alike.

The idea that God doesn’t and cannot punish can be very offensive to some people. It challenges a widely accepted idea of justice in which wrongdoers should pay for their crimes and the good be rewarded. It upsets their view of the universe as a morally coherent system in which good and bad are in perpetual conflict. The truth is far more simple than that.

The fault lines among religious people run along this divide. A godly world of reward and punishment reinforces the security of those whose religion plays a big role in their life-insurance policy and need for safety. Everything is clear and simple in this dimension but it comes to depend upon a scaffolding of definitions, rules and rituals to keep this world-view standing. In this dimension, excluding other people on the margins, followers of other faiths, and sexual minorities makes you feel safer. In extremes this kind of religious dimension resolutely blocks out all trace of the free and living Spirit of God – like the Christian faith that blessed apartheid and napalm bombs and turned a blind eye to the holocaust. Shake the scaffolding and it may seem as if the whole building will collapse. If they catch you shaking it, watch out. The vision of God that Jesus embodies, and Lent helps us find, is more challenging but less obviously secure.

I hope that by now you will have failed enough in keeping Lent to be able to see through this two-dimensional state of mind to which we all are at least partially attached. It thinks that God is like us whereas the gospel sees human destiny as becoming like God. There is an important difference in perspective here. To embrace the more challenging reality of a multi-dimensional universe we need to puncture in several places our self-righteousness and confidence of being on the right side. Each puncture, each failure in life is potentially a window onto this more expansive and inclusive view of reality, an escape route from the harsh conditions of the prison of fundamentalism and duality.

But doesn’t the Bible show us a God punishing the wicked (even sometimes a little excessively perhaps)? And doesn’t Jesus also speak on occasions about the bad being cast out into a place of weeping and gnashing of teeth? How to square this circle? Looked at impersonally the universe is a system in which the law of karma rules: good deeds produce good results, bad deeds you pay for. But wake up more, seeing yourself in a universe pervaded by the spiritual dimension, the mind of God. You then see a higher law than karma.

This is the ultimate dimension of love, to which we can - for all our failings, perhaps because of our failings - awaken. Karma and love co-exist but karma dissolves on conscious contact with love. Does the father of the Prodigal Son punish? Can he? We expand into this greater dimension through loving our enemies, praying for those who persecute us, turning the other cheek. All the idealistic, impossible things that we are incapable of doing, unless we become ‘like God’.